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Para o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, de acordo com o Decreto nº 7.053, de 23 de dezembro de 2009, entende-se como população em situação de rua: “um grupo populacional heterogêneo que possui em comum a pobreza extrema, os vínculos familiares fragilizados ou rompidos e a inexistência de moradia convencional regular. Caracteriza-se pela utilização de logradouros públicos (praças, jardins, canteiros, marquises, viadutos) e de áreas degradadas (prédios abandonados, ruínas, carcaças de veículos) como espaço de moradia e de sustento, de forma temporária ou permanente, bem como das unidades de serviços de acolhimento para pernoite temporário ou moradia provisória”.

 

Eles vivem nas Ruas

 

 

De onde vêm
Superação
Abrigos e apoios

 

No mundo das drogas

 

Marcos Duarte,17, vivia em uma casa com família estruturada. No decorrer de sua adolescência ao andar com pessoas que ele considerava “erradas” começou a usar drogas e começou a envolver-se em problemas, quando foi detido pela polícia.“Como foi o meu primeiro problema e eu não fui para a prisão, só fui detido, eu tinha que assinar todo mês. No segundo mês assinando, cansado de tudo aquilo, eu falei para o meu pai que não estava me sentindo muito bem, eu estava ficando louco, e pedi para ele me dar uma ajuda”.Após pedir por ajuda, um amigo do seu pai o encaminhou para a Clínica da Alma, onde está desde junho de 2015. A partir desse momento deixou as drogas, voltou para a escolha e busca reestruturar a sua vida.

Nas ruas

 

Maiara Rosana Maiara Rosana está há quase dois anos longe das calçadas, mas nem sempre sua vida foi assim. Crescida no “mundão” como costuma chamar as ruas e dependente química, Maiara chegou a comer comida do lixo junto da sua mãe para não passar fome.Mesmo após sair dessa situação, algumas marcas do passado ainda a perseguem. Maiara é soropositivo e por muito tempo achou que não poderia constituir uma família. Após receber a ajuda do Milton Marques, conheceu um companheiro que é naturalmente imune ao HIV.

O que é situação de rua?
Clique para ouvir um trecho da entrevista de Maiara Rosana
Clique para ouvir um trecho da entrevista de Marcos Duarte
Clique para ouvir um trecho da entrevista de Caudinei Lopes

Desemprego, vício, desamparo familiar, são apenas alguns dos fatores que levam milhares de pessoas à realidade das ruas em Campo Grande. Ao fazerem das calçadas suas residências, esses moradores tornam-se parte de estatísticas que só aumentam com o passar dos anos. As mudanças não estão apenas nos números, mas também no perfil dessas pessoas.

Na década de 70, a população que sobrevivia nessa condição, eram na sua maioria imigrantes, que saíram de suas cidades em busca de oportunidades de emprego, hoje eles são metade do total, os outros 50% são formados por alcoólatras e usuários de droga que abandonam suas casas para suprir o vício.

 

De acordo com o Conselho Comunitário de Segurança da Região Central (CCS Central – CGR/MS), 50% das pessoas que vivem nessa situação, vieram para a cidade em busca de um novo emprego para garantir uma melhor condição de vida. 30% são jovens e adolescentes que deixaram seus lares e envolvem-se com drogas. Os outros 20% são adultos, que passaram pelo sistema prisional.

Dados do Centro de Triagem e Encaminhamento do Migrante (Cetremi) apontam que houve uma explosão de moradores de rua na cidade.

O número de atendimento do órgão que aumentou 156% em um ano. Nos últimos quatro anos houve um aumento de 116%. Entre Agosto e Novembro de 2015 houve uma média de 251 pessoas atendidas pelo Centro de Referência Especializado em Assistência Social (CREAS – POP).

Abrigos e Apoios

A cidade de Campo Grande conta com três tipos de proteção social básica para pessoas em situação de rua: O Serviço Especializado em Abordagem Social (SEAS),Centro Pop e Cetremi.

 

 

SEAS

 

O SEAS é um serviço que faz a abordagem das pessoas em situação de rua que funciona 24h de domingo a domingo.

O coordenador Odair de Jesus Martins explica que o programa assegura trabalho social de abordagem e a identificação nos bairros a incidência de trabalho infantil, exploração sexual de crianças e adolescentes e moradores de rua.

 

Segundo Martins a abordagem é realizada por agentes, com acompanhamento de assistentes sociais. São quatro quadriláteros onde as equipes oferecem auxilio às pessoas. As aproximações são feitas após denúncias de bombeiros e populares, além de apresentações voluntárias e rondas.

Com a ajuda, algumas pessoas recusam o atendimento e o coordenador explica “Todo cidadão tem direito de ir e vir. Se não quer receber o atendimento, ele assina um termo de recusa de atendimento, e a gente tem que respeitar esse direito”.

 

 

Centro Pop

 

O Centro Pop funciona de segunda à sexta-feira das 7h30 as 17h30 e oferece atendimento integral às pessoas encaminhadas pelo SEAS. No local, os moradores realizam atividades culturais, recebem acompanhamento psicológico, jurídico, teológico, educacional e de assistência social.

 

O coordenador do Centro Pop, Diego Germano Emílio de Souza, explica que há uma parceria com a Cetremi. “Aqui nós temos café da manhã, almoço e café da tarde. Eles saem daqui as 16h30 e chegam de lá por volta das 08h30. A parte de albergagem é feita pelo Cetremi e a parte de acompanhamento, atendimento, orientação, encaminhamento é feito pelo Centro Pop”.

 

Germano aponta que as políticas públicas voltadas para o morador de rua funcionam, mas não em todos os setores da sociedade. Hoje, a assistência social e a saúde trabalham em conjunto com o Centro Pop, por meio dos consultórios nas ruas e o atendimento dos CAPS. “As políticas públicas tem caminhado, mas ainda tem muita coisa que pode melhorar, como habitação. Se a gente conseguiu uma casa para um dos nossos usuários foi muito. Falta uma melhor compreensão de algumas políticas públicas”.

 

Mesmo amparados pela assistência, os moradores em tratamento sofrem o preconceito da sociedade. De acordo com Germano durante os atendimentos médicos os usuários são tratados com discriminação. “Se a gente encaminha uma pessoa em situação de rua para um posto de saúde, os enfermeiros fazem vista grossa como se ele não estivesse ali para serem atendidos. A gente tem batido de frente, mas o Samu não nos atende como deveriam, os bombeiros não nos atendem como deveriam”.

 

Ele diz que a sociedade civil discrimina, considera o morador de rua como marginal, realidade que não é generalizada, e ignora todo o histórico de vida que um morador de rua ou viciado pode ter. “Tem alguns deles que cometeram delitos, mas isso não o faz menor que eu ou pior, ele é um ser humano da mesma forma que eu. A diferença é que ele não teve oportunidades, ele sofreu algum tipo de violência ou abuso, ou então não teve família, ele não está ali porque ele quer”.

 

O trabalho realizado no Centro é voltado para a reabilitação do indivíduo. Quando chegam, as pessoas estão sem objetivo de vida. O papel social do Centro Pop inclui a renovação da identidade, autonomia e vínculo familiar do morador. “Depois que ele tira todos os documentos ele é considerado pelo Estado um cidadão, e a partir daí começamos a resgatar a autoestima desses indivíduos e começa aí a reconstrução da autonomia desse indivíduo”.

Os moradores que são atendidos pelo SEAS passam a tarde no Centro POP e são levados para dormir no Cetremi 

No Centro POP os moradores de rua realizam diversas atividades de resocializção, inclusive dinâmicas artísticas

Os agentes do Seas e do Centro Pop realizam atividades musicais com os moradores. A guarda municipal ajuda na supervisão

“Todo cidadão tem direito de ir e vir.Se não quer receber o atendimento, ele assina um termo de recusa de atendimento, e a gente tem que respeitar esse direito”.
Odair de Jesus

“Tem alguns deles que cometeram delitos, mas isso não o faz menor que eu ou pior, ele é um ser humano da mesma forma que eu"

Diego Germano

Superação

Nas redondezas da região central de Campo Grande, próximo a rodoviária, encontra-se o projeto Clínica da Alma/MS – Escola de Águias. A clínica criada em 2007 e fundada na Igreja Tabernáculo da Glória, conta com aproximadamente 240 homens e mulheres – divididos em uma unidade no centro e outras duas chácaras – e busca atuar na prevenção ao uso indevido do álcool e drogas, para desestimular o seu consumo, para fornecer ao dependente químico um tratamento que possa reestruturar seus laços familiares e sociais, ainda facilita o processo social de reinserção do indivíduo na sociedade.

 

O idealizador do projeto, Milton Marques, que viveu nas ruas, hoje é formado em História e Direito, e colocou em prática a iniciativa de ajudar as pessoas que estão na rua. “Eu não abro mão das minhas concepções. Não tenho condições de oferecer mais, é porque não tenho. Se tivesse, certamente estaríamos em uma casa, linda e maravilhosa, com banheiro, beliche. O que nós temos, nós usamos. Pagamos aluguel da chácara masculina, da unidade feminina e vivemos. Comemos, bebemos, e nos alimentamos do melhor”.

 

No local, a rotina é como se fosse familiar, cada um tem as suas responsabilidades de limpar, arrumar e ajudar na organização da casa. Além disso, esses homens e mulheres recebem quatro refeições por dia. “Talvez não seja a refeição preparada pela nutricionista (...) Mas ninguém come alimento estragado aqui. Ninguém é besta”.

 

A Clínica da Alma é composta por três unidades: a central, junto da Igreja, a chácara para os homens e a das mulheres. Segundo Marques, os indivíduos que chegam muito debilitados pelo uso de drogas, geralmente são encaminhados para a chácara onde haverá um processo de reabilitação e preparação para inserção na sociedade.

 

Depois de um período de sete meses, os residentes vão para a unidade do centro, permanecem por mais cinco meses, e são estimulados a assumir novos compromissos, ajudar os outros que estão em tratamento, e são reencaminhados ao mercado de trabalho ou estudos. “Esses caras dormem aqui dentro. Lá em cima tem um quarto onde estão guardados os colchões, e eu fui acusado de estar violando os direitos humanos, por eles estarem dormindo aqui dentro, mas dormir na rua pode”.

 

Clique para ouvir um trecho da entrevista de Milton Marques

De onde vêm, para onde vão

Longe de casa

 

Claudinei da Silva Lopes,Claudinei da Silva Lopes, 27, dorme todas as noites em frente a um shopping de Campo Grande. Ele frequenta o Centro Pop e no final da tarde sai em busca de dinheiro para alimentação até o dia seguinte. Lopes trabalha como guardador de carro no shopping e quando todos vão embora ele fica por ali mesmo. “Eu vim para Campo Grande procurando uma vida melhor”. Ele preferiu não dizer de onde veio. Aqui não encontrou a vida que procurava e há cerca de um ano começou a dormir pelas ruas.Desde que procurou ajuda no Centro Pop ele explica que tem vivido melhor e fica longe das drogas e problemas na rua. Não está livre das dificuldades da situação em que se encontra. Segundo Lopes a vida nas ruas não é fácil, as pessoas o tratam muito mal, ele tem que procurar papelão para dormir, quando dorme vive na insegurança de sofrer alguma violência e não sabe se vai ter ou não o que comer.Lopes, que é adotado, conta que antes de vir para Campo Grande queria conhecer sua família biológica. Hoje ele sonha em sair da situação de rua e encontrar sua mãe.

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